Como essa newsletter começou
Chegou agora nos Relatos Selvagens e quer entender o que se passa por aqui?
Quando eu estava fazendo mestrado (2017/2018), uma das minhas colegas me apresentou um gênero literário que até então eu não conhecia e que - porque sempre acabo enveredando pelas mesmas seções quando vou passear na livraria - nunca tinha nem notado a existência: memórias e natureza. Juntas.
Não é preciso gostar ou ter lido um livro de memórias pra saber do que se trata. A dica está no nome. A mesma coisa com natureza. Mas como essas duas coisas andam juntas? Como elas são combinadas? Pra entender melhor, eu comprei um dos livros que minha colega iria dissecar em sua pesquisa para a dissertação: The Outrun, da Amy Liptrot.
A autora se muda para sua região de origem, Orkney (Escócia), depois de passar um tempo em um clínica de reabilitação em Londres para começar sua recuperação como alcóolatra. Em Orkney, longe (em todos os sentidos) de Londres, ela se reconecta com sua infância, família e amor pela natureza. E tudo isso aparece na narrativa. De forma bem superficial, dá pra falar que The Outrun é sobre buscar na natureza a cura para um trauma.
Eu gostei bastante do livro e resolvi embarcar em mais algumas leituras do gênero: Swimming With Seals (Victoria Whitworth) e Hidden Nature (Alys Fowler), que seguem exatamente a mesma linha. Outros, como H is for Hawk (Helen Macdonald) e Rootbound (Alice Vincent) oferecem um retorno a natureza não tão literal - enquanto em H is for Hawk a autora treina um falcão para superar o luto, em Rootbound, Alice Vincent se volta para sua varanda e sua ‘plantas de apartamento’ enquanto lida com uma separação.
Quanto mais eu leio esse tipo de narrativa, mas eu fico fascinada com a habilidade dessas escritoras de criar metáforas lindas e descrições primorosas. Lembro bem de algumas passagens de Swimming With Seals onde a autora descreve as nuances de cinza da cor do mar na Escócia em um dia frio e feio. Eu fiquei boquiaberta com o talento dela pra descrever o que eu descreveria na minha maneira pragmática de ser: o mar estava cinza.
Esses livros tem me influenciado tanto que passei a prestar mais atenção no meu entorno quando estou fazendo caminhadas pelo countryside britânico ou quando estou cuidando das plantas aqui em casa. Deu até vontade de voltar a escrever no antigo blog para tentar polir minha escrita.
Mas eu queria começar de novo - e por isso aqui estou. Pra tentar fazer metáforas lindas entre uma ficus lyrata e o trauma que é viver um dia após o outro. Torçam por mim!
Torcendo
Claro que vamos torcer e te acompanhar!