Em algum momento da viagem para Cornwall, seguindo pela A303, acho que a gente passou por um portal. Como no livro 1Q84, acho que passamos para uma realidade paralela onde todo mundo existe, mas existem algumas diferenças. Infelizmente não avistei duas luas (desculpa pra quem não pegou a referência), mas entrei em restaurantes, e me hospedei em hotéis, essas coisas que parece que a gente nunca mais vai conseguir fazer.
Esse respiro que aconteceu no ano pandêmico finalmente me levou pra Cornwall. Cornwall, que todo me falava “você tem que ir pra lá”. Essa é umas das frases que mais detesto. Claro que eu quero ir pra Cornwall. Sempre quis. Mas só porque você falou que eu tenho que ir, vou esnobar e deixar lá no fim da fila. Cada vez que uma pessoa me fala isso, a resposta que tenho vontade de fornecer é: “tá bom, pega aqui a minha lista de lugares que já fui e vá em todos, depois a gente vê o que tá faltando pra mim e pra você e voltamos a conversar”.
Mas estou perdendo o foco. Vamos voltar pra Cornwall.
Como eu quero voltar pra Cornwall. Nunca fui dessas pessoas obcecadas com o mar. Legal o mar. Delícia entrar no mar, pegar uma praia, mas passo bem sem por um tempo. Até Cornwall. Não passo mais bem um tempo sem voltar pra lá.
O momento que eu entrei no mar em Cornwall foi o momento que eu passei a ser essas pessoas que amam o mar. (Sinto cariocas já desesperados para deixar um comentário irônico enchendo o saco dessa paulistana) Antes que me entendam mal, eu sempre gostei do mar, mas não com a ‘devoção’ que tanta gente diz sentir.
Housel Bay foi o lugar do primeiro mergulho. E aqui me falta a habilidade para descrever esse momento com uma metáfora poética, ou para decifrar nuances de cores e detalhes das pessoas e do lugar. Talvez escrever que eu não sei escrever como me senti - tão bom que foi - seja suficiente pra me expressar. Espero ser compreendida!
Quando chegou a hora de retornar pra casa, o mesmo portal aguardava. Voltamos pro trabalho remoto, para as estatísticas, para as saídas essenciais, para o café take out. Da próxima vez, eu pego outra estrada na volta.
Quando você realmente se encontra com o mar, pode ser em Ipanema, em Santos ou em Cornwall, por um momento ou por toda a vida, fica difícil descrever. Mas, por você “falar” sobre essa dificuldade, eu sei...eu sei a minha versão e posso imaginar a sua. Que venham novos mergulhos!
Lindo texto!! Quando vi o novo confinamento chegar ponderei arrendar uma casa na Cornualha para fazer lá o confinamento 🤣🤣