O problema de ter amizade com alguém que gosta de plantas, flores e jardins é ter que aguentar opinião não solicitada sobre seu quintal. Minha amiga Madel (esse não é seu nome verdadeiro, sua identidade está preservada porém foi concedida aprovação para publicação desse causo) ganhou um upgrade de área verde que veio junto com a casa nova, e graças ao lockdown ela conseguiu me manter alheia as suas decisões horticulturais por alguns meses.
Mas a mamata acabou. Leitores, eu visitei o novo quintal.
Um delícia de área verde que já vem com uma roseira adulta, e com potencial enorme de se tornar o jardim dos meus sonhos. Ops, dos sonhos dela.
O problema é que os sonhos dela envolvem - não consigo nem escrever - envolvem… é difícil demais pra mim externalizar essas palavras… grama artificial.
Ela me levou no último andar da casa pra ver o quintal pela janela do quarto e assim ter uma noção melhor do espaço. E também para poder espiar os quintais dos vizinhos. Visto de cima, o quintal da Madel desponta: grama natural, ainda que indomada, mas bela mesmo com seus defeitos e alguns buracos. Nada que uns sacos de adubo não resolvam. O verde de verdade, comparado ao verde da grama artificial de todos os vizinhos - todos, todos preferiram a versão de plástico - desponta.
Madel me deu seus motivos para arrancar esse pedacinho de natureza de seu quintal e trocar pelo verde plastificado. Mas essa newsletter não é democrática e não reproduzirei tais argumentos aqui. Eu tentei fazer um trabalho de convencimento. Apelei para o poético e importante contato das crianças com a natureza quando elas moram numa cidade imensa como Londres. Apelei para o lado estético, que eu sei que mexe com Madel, e falei que artificial é cafona. Cafona é uma palavra que faz as pessoas repensarem as coisas né?
Mas leitores, eu falhei. Madel está decidida.
Falei pra ela que aceito a derrota e não vou mais tocar no assunto. Eu sei e ela sabe que estou transferindo meus desejos pessoais de jardim para o jardim alheio. Mas, ser superior que sou, penso que fiz minha parte de amiga. Mas que eu vou sorrateiramente arrancar pedaços da grama artificial toda vez que fizer uma visita… imagina, jamais faria isso, Madel.
O time de comunicação que administra as contas sociais de Madel pediu pra que eu viesse aqui esclarecer que ela NÃO PRETENDE tirar as floreiras que estão lá. Ela também pede privacidade nesse momento de discórdia tão difícil e avisa que não se manifestará sobre o assunto pois é isenta e só queria um espaço democrático (mentira, #bolsonarogenocida)
Ual, tomara que a Madel repense essa decisão, ela é tão privilegiada em ter esse pedaço de quintal com grama natural, quando vcs todos sofrerem com calor e ar seco, ela terá um pedaço de oasis para fazer piquenique, ar mais fresco!