Em português a gente não estranha o uso do verbo ‘veranear’, mas eu, particularmente, nunca escutei ou li ninguém que transformou o inverno em verbo. Existe ‘invernar’?
Em inglês existe, não sei se formalmente, mas minha amiga linguista Jana sei que aprova a linguagem criada a partir da necessidade, da vontade de expressar algo que o limitado vocabulário da língua inglesa não permite. Wintering. De ‘winter’, inverno em inglês.
Falei essa palavra em voz alta ontem pela primeira vez durante a sessão de pilates. Minha instrutora falou que quem quisesse poderia adicionar mais resistência na máquina de reformer, no que eu prontamente respondi: no fim do ano eu não tenho mais força pra nada, só ofereço o mínimo mesmo. E foi aí que ela me disse que eu estou ‘invernando’, e que eu tô é certa de fazer o que o resto da natureza faz nessa época.
Eu não lembro de sentir tanto a passagem entre as estações antes de vir morar na Inglaterra. Pra ser bem honesta, eu mal sabia quando a primavera se tornava verão e quando verão se tornava outono e por aí vai. Tudo parecia meio igual. Às vezes aparecia uma semana mais fria em fevereiro ou um calor do cacete em julho, mas eu não media como eu me sentia a partir das datas que aqui no norte do hemisfério agora me influenciam tanto.
Mas obviamente (espero) eu não sou uma planta, e é preciso seguir com trabalho, lazer e avanços intelectuais (ui!) mesmo invernando. Pela primeira vez em quase 16 anos nessa terra, eu estou contando os dias pro solstício de inverno: depois que essa data passar, o dia mais curto do ano ficou pra trás e espero que meu corpo e minha cabeça entendam que é então hora de se prepararem pra primaverizar.
Não me importo com o frio mas a escuridão de pega! Que venha dia 21
Que delicia de texto, Helô! Pois então vamos nos dar a liberdade de invernar mais! Eu sempre falo que depois do dia 21 de junho é ladeira abaixo e que 21 de dezembro começo a subir a ladeira lentamente! Beijo beijo