Quando o despertador toca às 6 da manhã em pleno sábado, tudo que eu quero é que o Martin fale: vamos ficar? Eu sei que ele quer que eu fale isso também, mas nenhum dos dois dá o braço a torcer e levantamos. Já de pé e trocados, sem o risco de desistir, eu me pergunto: por que eu tô fazendo isso de novo? Eu acordei cedo a semana toda, o sábado de manhã foi feito pra dormir até tarde.
Mas aí, pegamos a estrada. A sensação de deixar a cidade pra trás, o conforto do meu apartamento me aguardando no retorno, me deixa mais animada. Assim que entramos no Lake District National Park, a paisagem toma conta de mim. É a exuberância das montanhas que vejo enquanto procuramos um lugar pra estacionar que acaba gravada na memória quando penso nesse fim de semana.
Quando a subida suga todas as minhas energias, e tomo água não apenas pra me manter hidratada mas também para diminuir o peso da mochila, eu me pergunto: por que eu tô fazendo isso de novo? Poderia ter ido pra praia, poderia ter ido pro parque, poderia ter ido pra um lugar plano.
Mas aí, eu chego no topo. Chego no que até então era o ícone do Google Maps, aquela gotinha vermelha invertida. E ao vivo é muito mais impressionante do que nas fotos. A sensação de estar no lugar que há meses estava nos meus planos é o que acaba gravado na memória quando penso nesse fim de semana.
Quando o vento bate na barraca e o barulho não me deixa dormir, eu me pergunto: por que eu tô fazendo isso de novo? É insuportável, parece que a barraca vai decolar, sair voando. A barraca cara porque é leve, e porque é leve parece vibrar ainda mais com a batida do vento, consequentemente me deixando acordada.
Mas aí, o vento para. E tudo que eu escuto é o barulho da água. Estou acampando a poucos metros de um lago, a vários metros de altura, no topo de uma montanha, em uma paisagem que pouca gente associa com a Inglaterra. É um som maravilhoso, o da água. É o som que eu acabo gravando na memória quando penso nesse fim de semana.
Quando eu entro em casa, e todos os equipamentos carregados em duas mochilas estão espalhados pela sala em menos de dois minutos, e eu sei que vai levar pelo menos uma semana até tudo estar em seu devido lugar, eu me pergunto: por que eu fiz isso de novo?
Mas aí, Martin me fala o nome de uma nova gotinha vermelha invertida. Eu vejo as imagens. É a vontade que vai me fazer repetir tudo de novo em algum próximo fim de semana.
Mas aí...
Gostei muito, Helô. Depois de um ano de tantos “e se”, precisamos valorizar aquilo que vem após o “mas aí”. Beijos!
E é isso que nos faz desbravar o mundo! Adoreio texto e me emocionei. beijinhos!