Plantas da varanda

O prédio onde moro está em obras. Uma obra gigantesca, que deve durar mais um ano, e vai trocar todo o revestimento das fachadas e varandas. Quase metade do prédio já está embrulhada em andaimes, e em breve chegará o dia que a varanda precisará estar vazia, porque vai ter andaime ali também. Livre das cadeiras, do móbile de bambu e, principalmente, das plantas.

Sofro por antecipação. Esperamos tanto por essa obra e ela vai acontecer justamente nos meses que temos luz por sei lá, 16 horas, que é quando as plantas, de fora e de dentro, mais crescem. Tenho aí um mês e meio para contemplá-las, até precisar dar um jeito e tirar elas dali. Vai chegar um dia que todas serão carregadas pro porta malas do carro e seguirão em excursão pela cidade, distribuídas entre as amigas que tem jardim. Não vou nem perguntar se a amiga pode ou muito menos se ela quer cuidar. Vou simplesmente aparecer com o vaso e tentar fazer um match: dedicação necessária de cada planta x competência horticultural da amiga.

Queria já fazer isso agora, mas o M prefere esperar. Vamos aproveitá-las até o dia que a gente de fato ver o andaime subindo, ele disse. Meu lado prático resolvedor de problemas adultos do dia a dia já queria tirar essa pendência da lista, mas ele tem razão. Nos três dias da semana que trabalhamos de casa, acho que ando do escritório para a varanda a cada hora. Se olhar com cuidado, o piso que reveste esse curto trajeto deve estar desgastado.

Estou escrevendo do sofá. Está calor, já são sete da noite, o céu tá azul e o sol ainda brilha. A porta da varanda aberta, consigo escutar o barulho do móbile, bem de leve, e a cortina dança devagarzinho no ritmo da brisa. As plantas da varanda parecem felizes, apesar dos eventuais ataques de pulgões e formigas, que eu aprendi a controlar e a me conformar.

Quem sabe, daqui a um ano elas estarão de volta. Por enquanto, me resta um mês e meio de contemplação.