Eu conheci a Samia ao vivo há alguns anos, quando ela foi em um dos tours que eu guiava no centro de Londres, sobre mulheres e seus legados. Recentemente, ela publicou seu primeiro livro infantil, chamado A Minha Natureza. Ele foi produzido de forma independente, através de financiamento coletivo. Quando meu exemplar chegou pelo correio, li na hora e achei emocionante. Então tive a ideia de perguntar para ela se ela toparia contar um pouco aqui sobre o envolvimento dela com a natureza, que é a inspiração para esse livro tão lindo.
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A nossa natureza
Era Julho de 2018 quando, grávida de 7 meses, encerrei meu último dia na casa de câmbio em que trabalhava. Como um pássaro preso na gaiola, por cinco anos no Brasil e quase um ano em Londres, era em uma sala blindada, sem luz natural ou ventilação, que eu passava a maior parte dos meus dias e apesar de soar claustrofóbico, existia uma parte minha que se satisfazia através do manuseio de moedas estrangeiras de lugares com os quais eu nunca, nem nos meus melhores sonhos, havia visitado.
Entrei na van, já carregada com os poucos pertences que um studio flat era capaz de comportar, e partirmos para o novo endereço no countryside. À medida em que avançávamos na estrada, os tons cinzentos da selva de pedra iam sendo trocados pelo verde vivo dos campos e o ruído dos carros no trânsito, pelo canto dos pássaros voando, ora sozinhos, ora em bando, mas sempre livres cantarolando!
Chegamos, então, em Sawbridgeworth. Uma cidadezinha pitoresca no leste da Inglaterra, onde o tempo parecia passar mais devagar. Com o olhar curioso de quem chega à um novo lugar, os corações que batiam dentro de mim, pulsavam mais fortes com tudo o que ainda havia para explorar. Então, com pouco mais de uma semana vivendo imersa em tamanha beleza (e bagunça! com caixas e sacolas espalhadas pela casa), a minha companheirinha de quatro patas, com quase 18 anos, decidiu partir. A Princesa (nome escolhido por mim no auge da imaturidade e inocência dos meus 12 anos) havia atravessado não apenas um oceano comigo, mas as fases mais importantes da minha jornada até ali. Justo agora que teríamos uma floresta inteira como quintal para ela correr?! Justo agora em que eu faria a travessia mais potente e transformadora da minha vida?! Mas o que é justo quando se trata dos mistérios da vida?! Meu irmão, na tentativa de me consolar, me disse: “sempre senti que o dia em que você tivesse um filho a Princesa partiria, afinal, agora você tem um novo grande amor para cuidar e ela pôde descansar!”.
Dois meses se passaram e por mais que o lado de fora já estivesse mais bem organizado à espera do meu grande amor, aqui dentro ainda havia um bocado de coisas fora do lugar. Mas sabe como é, né?! Viver é como aprender a andar de bicicleta, só que com a bicicleta já em movimento e sem as rodinhas de apoio: dá medo, a queda faz parte, mas uma hora a gente aprende e o caminho se abre pra gente.
Um dia, sentada na beira do rio que passa em frente de casa, em um estado profundo de silêncio e contemplação, perguntei pra vida o que ela queria de mim, e por ter me conduzido até ali, pedi que ela revelasse a minha missão. Desde então, comecei a me relacionar com a natureza à minha volta, através de estudos da espagiria (farmácia egípcia antiga) e a botânica oculta de Paracelso que acreditava que todas as plantas do reino vegetal possuem regências dos astros, influenciando tanto em suas formas físicas, como em suas propriedades medicinais. Mas não parava aí! Ainda tinha o reino animal e mineral que, pouco a pouco, revelavam seus saberes.
Nesse período, eu já havia passado das quarenta semanas de gestação, mas o Bento seguia tranquilo aqui dentro, sem sinais de que queria nascer. Foi então, em uma sexta-feira à tarde com um lindo sol de outono que o sinal chegou. Enquanto eu rebolava na bola de pilates, tentando acelerar o parto, olhei para fora e bem em frente de casa haviam gaivotas (muitas!) sobrevoando o rio, como se estivessem dançando um ballet das aves. Eu sabia que aquele era o sinal. As contrações começaram naquela noite, mas foi somente no final do dia na segunda-feira que ele nasceu!
O tempo passou e enquanto eu aprendia a ser mãe do meu filho, também era acolhida e cuidada como filha pela Mãe Natureza, que a cada troca de estação me ensinava que é possível morrer e renascer muitas vezes dentro de uma mesma existência. Que é possível deixar ir o que não nos serve mais sem alarde ou resistência. Foi observando o processo das rosas que entendi que antes de desabrochar e exalar seu aroma mais refinado, é preciso percorrer caminhos obscuros no subsolo da alma, firmar raízes e atravessar os espinhos até chegar à coroa. As rosas são o amor venusiano encarnado. Um presente dos céus que vem para nos lembrar de que somente com amor e coragem, conseguiremos alcançar a máxima potência do nosso ser.
E foi assim, confiando e mergulhando complemente na força cósmica que rege a vida, sendo sustentada pelo milagre que é gerar uma vida dentro de si e poder acompanhar de perto o seu desabrochar, que o livro infantil A Minha Natureza nasceu. Um convite para que adultos e crianças embarquem em uma linda viagem pelas quatro estações, reconhecendo em si a existência dos quatro elementos que compõem a matéria e aprendam mais sobre si mesmos através da contemplação da Mãe Natureza, permitindo que o coração seja a grande bússola dessa jornada.
Para encomendar um exemplar do livro, chama a Samia no Instagram: https://www.instagram.com/samiapalmayoga